Temos mais exoplanetas que amigos
Finalmente encontramos planetas parecidos com a Terra. E agora? Segundo a Física, agora nada.
A história dos exoplanetas (planetas em outros sistemas solares), é muito recente. De um modus operandi que nos remete às ideias do cristianismo, por muito tempo pensávamos que apenas nosso Sol tinha planetas. Isso porque não enxergávamos nada orbitando estrelas vizinhas. Aí vieram os loucos anos 90.
Ah, que época maravilhosa: Romário ganhando a Copa sozinho, a Internet entrava em nosso dia a dia e Malhação era filmada numa academia. No meio dessa surra de informação, em 1995, o primeiro exoplaneta é descoberto.
Os consagrados astrônomos suiços, Didier Queloz e Michael Mayor, bisbilhotando a estrela Pegasi-51, por meio da técnica de velocidade radial — já explicarei que diabos é isso — se tornaram os primeiros pais de um planeta fora do nosso sistema.
Usando um poderoso espectrógrafo a duplinha conseguiu observar uma ligeira mudança de cor no espectro da estrela, sempre com o mesmo intervalo de tempo — o chamado Efeito Dopler.
Meu primeiro filho vai se chamar Kepler
Logo é real, existem planetas por ai! E com o avanço da busca por exoplanetas usamos da Matemática simples para confirmar que: toda, ou quase toda estrela no Universo tem planetas, logo; existem mais planetas que estrelas! Que lindo!
No dia 7 de Março de 2009, a NASA enviou ao espaço o telescópio espacial Kepler, com a missão de encontrar novos exoplanetas—usando o método do trânsito.
Como ainda não tínhamos conseguido observar diretamente um exoplaneta — que do nosso ponto de vista é muito escuro e a luminosidade de sua estrela impossibilita sua procura — , o telescópio espacial Kepler ficava observando potenciais candidatos e esperava uma sombra orbitar a estrela. Se a sombra fizesse isso constantemente e no mesmo intervalo de tempo, bingo! Tinhamos mais um amiguinho cósmico.
Assim, a missão Kepler encontrou 2,662 planetas ao longo de seus mais de 9 anos de serviço no espaço. Logo que nossa valente sonda ficou sem combustível e se aposentou — Sim! No espaço a aposentadoria ainda é uma realidade— A missão TESS foi lançada em 2018. Agora o objetivo era encontrar planetas próximos e parecidos com a Terra.
Nessa aventura doida, encontramos vários tipos de planetas: gigantes e gasosos como Júpiter, pequenos e infernais como Mercúrio, congelados e desolados como Urano e rochosos e na zona habitável de seus sistemas como a Terra.
Nosso novo objetivo era encontrar um plano B que um dia chamaríamos de casa, um lugar que no futuro, se as coisas continuarem como estão, a gente embarcava em algum busão interestelar feito provavelmente pelo Elon Musk e partiríamos para a nova Terra! Quantos milhões de filmes horroroso vimos com essa temática? — Não responda.
E conseguimos! Encontramos planetas quase iguais a Terra — Kepler-438b e Gliese 667 Cc são os favoritaços — , na zona habitável de seus sistemas (não muito perto da estrela para ser um forno nem muito distante para ser congelado) e orbitando um Sol um pouco diferente do nosso, chamada de anã vermelha— uma estrela menor e mais ativa em termos radioativos.
Bacana, esse poderia até ser o futuro condomínio da humanidade. Só que segundo a Física atual, não existe nenhuma possibilidade de chegarmos nesses planetas. Aliás, nem nossa décima quarta geração chegaria com as carroças espaciais disponíveis no momento.
O exemplo mais simples é o sistema solar mais perto do nosso, chamado de Alpha Centauri. Essa freguesia maravilhosa é um sistema com três estrelas. Em uma delas, chamada de Proxima Centauri, existe um exoplaneta — descoberto em 2016 usando a técnica de velocidade radial — que está na zona habitável e pode ser uma nova Terra. Chamado Proxima Centauri b ele está à uma distância de 4,37 anos luz de você. Pouco né? Não!
Apesar de tratar-se da famosa velocidade da luz, 4,37 parece fofo não é mesmo? Mas trazendo para a tradicional e renomada escala dos quilômetros: Próxima Centauri está a 40 trilhões de quilômetros da Terra. Pra você sacar o drama, Plutão — que é planeta — e foi visitado pela sonda New Horizons em 2015, está a uma distância super tranquila de 7,5 bilhões de quilômetros. A New Horizons demorou 10 anos para chegar nesse lugarzinho especial.
Logo, meu querido Highlander, com toda a tecnologia de propulsão que temos hoje, uma nave feita por humanos demoraria 81,000 anos para chegar em Proxima Centauri.
Então, por mais legal que sejam as missões para descobrir novos planetas — e eu adoro e comemoro cada novo planeta — não existe plano B. Nossa casa é a Terra! E por mais que que tentem destruí-la das mais diversas formas, devemos lutar para preservarmos essa menina linda.
Lightsail, ao infinito e além!
Para terminar por hoje, pois o papo já está se alongando, uma boa notícia para pelo menos um dia conhecermos um exoplanetas são as chamadas Lightsails. A Planet Society, uma organização de exploração espacial sem fins lucrativos, bolou uma ideia sensacional: fazer pequenas naves não tripuladas— apenas 32m² — em forma de pipa, chamadas de Lightsail. Elas usam um sistema de propulsão inovador chamado de Vela Solar.
A Vela Solar basicamente usa um espelho que reflete a luz do sol e ganha extrema e constante velocidade com a pressão da radiação. Essas pequenas maravilhas já estão sendo testadas na orbita baixa da Terra. As Lightsails teriam a capacidade de viajar a 240,000 Km/h. — Nosso recorde atual é de 52,000 Km/h alcançado pela já citada sonda New Horizons.
A ideia é que depois de desenvolvida, essa pipa endiabrada consiga chegar a Proxima Centauri b em 20 ou 30 anos — de 81,000 pra 30 é top!
O detalhe é que ainda não sabemos como frear esses bebêzinhos, logo, a essa velocidade louca, talvez a foto da nossa vizinhança fique meio borrada.